26 de julho de 2009

Coisas que só acontecem comigo


Capítulo de hoje: "Nóis é tudo irmão!"


Na verdade, o episódio aconteceu há alguns dias, mas só hoje resolvi contar.

Estava em Itaberaí, cidade do interior de Goiás, local onde vivi por 18 anos. Era domingo de manhã, aniversário da minha mãe, e a cidade parecia mais parada que nunca.

Cansei de ficar sem fazer nada dentro de casa, fui fazer nada na "porta da rua"...minha afilhada, 6 anos, ficou ali comigo.

De repente, meio cambaleante, o bêbado, que estava caído na calçada, se levanta e caminha em nossa direção:


- Ô minha irmã, me dá uma ajudinha, pra comprar uma comida! Ou então me dá a comida!

- Tenho não! A dona da casa saiu e só deixou a menininha pra eu olhar! (rs, adoro fazer isso!)

- Vixe! Tô numa fome! E num acho um irmão pra me dar uma comida! Cê sabe que nóis é tudo irmão. Eu, a dona dessa casa, ocê, essa minina, os cachorro...todo mundo é irmão e precisa de alimento!

- Já falei que não posso ajudar! E eu também tô com fome!

- É difícil demais irmã! Jesus Cristo também passou fome, e aí ele morreu! Ele também é nosso irmão... Vou fazer o seguinte: vou andar mais um pouco, se achar uma comida, trago aqui pra dividi cocê e com a minina! Fica com Deus.

- Aff...vai com Deus também!

- Ixe, com Ele vai ficar bem mais fácil de achar!

Sobre solidão e saudade

Solidão
(dizem que é Chico Buarque)

Solidão não é a falta de gente para conversar, namorar, passear ou fazer sexo. Isto é carência!
Solidão não é o sentimento que experimentamos pela ausência de entes queridos que não podem mais voltar. Isto é saudade!
Solidão não é o retiro voluntário que a gente se impõe, às vezes para realinhar os pensamentos. Isto é equilíbrio!
Solidão não é o claustro involuntário que o destino nos impõe compulsoriamente. Isto é um princípio da natureza!
Solidão não é o vazio de gente ao nosso lado. Isto é circunstância!
Solidão é muito mais do que isto . Solidão é quando nos perdemos de nós mesmos e procuramos em vão pela nossa alma


Saudade
(dizem que é Miguel Falabella)

Trancar o dedo numa porta dói. Bater com o queixo no chão dói.
Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, um pontapé, doem.
Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim. Mas o que mais dói é a saudade.
Saudade de um irmão que mora longe.
Saudade de uma cachoeira da infância.
Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais.
Saudade do pai que morreu, do amigo imaginário que nunca existiu.
Saudade de uma cidade.
Saudade da gente mesmo, que o tempo não perdoa.
Doem essas saudades todas.

Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama. Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da presença, e até da ausência consentida. Você podia ficar na sala e ela no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá. Você podia ficar o dia sem vê-la, ela o dia sem vê-lo, mas sabiam-se amanhã.

Contudo, quando o amor desgasta, aparece uma saudade que ninguém sabe como deter. Saudade é basicamente não saber. Não saber mais se ela continua fungando num ambiente mais frio. Não saber se ele continua sem fazer a barba por causa daquela alergia. Não saber se ela ainda usa aquela saia. Não saber se ele foi na consulta com o dermatologista como prometeu. Não saber se ela tem comido bem por causa daquela mania de estar sempre ocupada, se ele tem assistido às aulas de inglês, se aprendeu a entrar na Internet e encontrar a página do Diário Oficial, se ela aprendeu a estacionar entre dois carros, se ele continua preferindo Antártica, se ela continua preferindo suco de melancia, se ele continua sorrindo com aqueles olhinhos apertados, se ela continua dançando daquele jeitinho enlouquecedor e cantando tão bem, se ele continua adorando o MC Donald's, se ele continua amando, se ela continua a chorar até nas comédias.

Saudade é não saber mesmo! Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.

Saudade é não querer saber se ela está com outro, e ao mesmo tempo querer. É não saber se ele está feliz, e ao mesmo tempo perguntar a todos os amigos por isso... É não querer saber se ele está mais magro, se ela está mais bela. Saudade é nunca mais saber de quem se ama, e ainda assim doer.
Saudade é isso que senti enquanto estive escrevendo e o que você, provavelmente, está sentindo agora depois e acabou de ler.